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O olhar criativo de

Joel Neto

Joel Neto nasceu na ilha Terceira e, depois de alguns anos no continente, a ela regressou para se dedicar apenas à literatura.

Joel Neto é autor de mais de quase duas dezenas de volumes de diferentes géneros, entre os quais Arquipélago (romance, 2015), A Vida no Campo (diário, 2016), Meridiano 28 (romance, 2018) e A Vida no Campo: Os Anos da Maturidade, vol. II (diário, 2019), que alcançaram os tops de vendas e o clamor da crítica. Tem livros e contos traduzidos em várias línguas e publica regularmente em antologias e revistas literárias portuguesas e estrangeiras. Vive, desde 2012, no lugar dos Dois Caminhos, freguesia da Terra Chã, onde tem um jardim, um pomar e dois cães.

Lembramo-nos todos de que estamos sobre vulcões em actividade – adormecidos mas vivos.

Corro as cortinas do quarto, na janela que se debruça sobre o Canal, e então ali está ela: a Montanha. Ergue-se, imponente, no silêncio ameno e gentil de uma manhã de Verão, e a toda a volta o sol celebra-a sobretudo a ela, como a celebraram Brandão e Nemésio, estendendo o mar e as ilhas e os pássaros (sempre os pássaros) em sua reverência.

Nenhum outro ponto de Portugal, ou sequer dos Açores, oferece sensação de arquipélago semelhante à que se tem aqui. Esta tarde havemos de descer à Fajã da Caldeira de Santo Cristo, serpenteando pelo vale que escorre desde a Serra do Topo, e levantar-se-ão à nossa frente a Terceira e a Graciosa – exultando sob este mesmo sol cálido e festivo ou amuando por detrás de um nevoeiro espesso, não podemos ainda saber. Aqui, da Urzelina, é impossível escapar a estas. O Pico, monumental e endurecido pelos séculos de caça à baleia e cultivo da vinha. O Faial, gracioso e cosmopolita, aculturado por décadas de navegação e telegrafia. E, sobre ambas, majestosa, a Montanha.

Poderia a paisagem dos Açores, a sua força e a sua redenção, ter demonstrado ao opróbrio a sua condição de opróbrio? Ter-se-iam os homens apaziguado aqui, se em algum momento houvessem podido conhecer esta esperança?

Conte-nos algo que tenha visto e que nunca tinha visto antes.

Nunca tinha visto a Graciosa e a Terceira, a partir da costa norte de São Jorge, com tanta nitidez. Já fui dezenas de vezes a São Jorge e as neblinas nunca mo tinham permitido. Mais uma demonstração de que a meteorologia é um dos grandes instrumentos destas ilhas para se reinventarem a cada momento.

Houve alguma refeição em especial que lhe tenha ficado na memória?

Um polvo grelhado no Peter, na Horta. Sempre achei que na Terceira se cozinhava polvo como em mais lado nenhum dos Açores, e aliás nunca olhei para o Peter como um restaurante a sério. Bem feito para mim.

Qual foi o seu momento preferido desta viagem?

O regresso a casa. Em todas as minhas viagens o regresso a casa é o melhor momento. Parto precisamente para poder voltar. E, quando se trata dos Açores, esse momento é sempre perfeito: os Açores vêm connosco.

Se tivesse de recomendar os Açores a amigos, o que diria?

Que se trata do último paraíso na Terra. Sou um escritor: as hipérboles dão-me jeito. E, no entanto, desafio-vos a encontrar outro comparável.