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O olhar criativo de

Mário Linhares

Mário Linhares nasceu em Oeiras, mas é em Sintra que vive e absorve inspiração. O desenho de observação é a sua especialização.

Mário Linhares licenciou-se em Design Paisagístico e, mais tarde, em Design de Equipamento. Trabalhou nessas áreas, mas rapidamente a sua paixão de infância falou mais alto e dedicou-se ao Desenho.

Mestre em Ensino das Artes Visuais, está a terminar o Doutoramento em Desenho na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Desenha compulsivamente e idealiza, sem parar, projetos artísticos e humanitários. Professor, co-fundador dos Urban Sketchers Portugal, contribui com desenhos para diferentes livros, exposições, palestras ou conferências em Portugal e no estrangeiro.

Viajar é a segunda natureza de Mário Linhares. Estar fora do seu habitat natural é uma das suas sensações preferidas.

Conte-nos algo que tenha visto e que nunca tinha visto antes.

O Algar do Carvão, na ilha Terceira, possibilita o impensável e permite-nos entrar nesse território que não é suposto ser visto nem sequer pisado. A nossa mente ganha então novos imaginários deixando-nos sonhar ser lava ardente que habitou um dia o interior de um vulcão.

Se tivesse de contar a uma criança sobre a sua viagem, o que diria?

No meio do Oceano Atlântico surgiram, há muitos milhões de anos atrás, umas ilhas formadas por erupção vulcânica. Nesta viagem, fomos às ilhas Terceira, São Jorge e Faial. Conhecemos as casas dos primeiros habitantes, entrámos dentro de um vulcão, vimos as vacas felizes, mergulhámos no mar, desenhámos as ilhas de miradouros muito altos, mas também junto à água, comemos lapas que sabiam a mar e a terra, e tantos outros pratos típicos das ilhas onde a carne é tão bem tratada e o peixe tão saboroso. No final, fica a sensação de que se pisou um território especial, único, e que temos de voltar rapidamente.

Qual foi o maior desafio e a maior recompensa desta experiência?

Viajar e desenhar só se torna uma decisão pacífica quando se aceita que menos é mais. Abrandar o ritmo é aumentar a qualidade da experiência. Uma experiência mais intensa implica mergulhar fundo e com mais tempo dentro da cultura e dos sabores, dos sons e das brisas, das caminhadas e das suas pausas. E o desenho permite que tudo isso aconteça com o máximo de qualidade. É parar para ver ativamente, construir uma imagem não só no papel, mas também na nossa cartografia interior. Portanto, e resumindo, o maior desafio é abrandar o ritmo. A maior recompensa é ganhar tempo e imaginário.

Tinha alguma ideia previamente criada sobre [a região] e de que forma esta experiência a alterou?

Estava convencido que o sotaque de São Miguel era o mais perceptível para um continental. Ao chegar à Terceira esperava sons ainda mais remotos e palavras portuguesas a soar a sal atlântico (que não é língua nenhuma, claro). Preparado de véspera para um esforço auditivo acima do normal, dei comigo boquiaberto pela suavidade com que a língua de Camões é dita nas outras ilhas açorianas. Quão enganado estava. São Miguel, afinal, tem o sotaque mais acentuado. É influência francesa, explicaram-me... O poder da viagem é também este contacto direto com as pessoas na sua paisagem. Ouvi-las com cuidado. Desconstruir preconceitos. Encontrar proximidades.